Esta cidade nunca foi para mim uma prioridade, claro que se encontrava na lista de destinos a visitar, mas estava lá no fundo. Talvez pela minha preferência por destinos mais exóticos, ou por ser caro, ou até porque na minha mente, um punhado de betão ao alto não fosse algo que achasse fascinante. Oh, como eu estava enganado!

Na verdade, foi logo desde o primeiro momento que me apaixonei, por muito cliché que isso possa parecer. Quando, ao sair de Penn Station, tive que inclinar abusadamente a cabeça para olhar deslumbrado o topo dos arranha-céus e fui atordoado pelo fervilhar de movimentos e sons de sirene. Senti que essa foi a minha mensagem de boas-vindas.
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O voo direto da United do Porto para o aeroporto de Newark ajudou-me de forma substancial a enfrentar as quase 8 horas de viagem, passadas a desfrutar do surpreendentemente agradável serviço de bordo da companhia e do seu sistema de entretenimento. A ida e volta ficou por 480€ com mala de porão incluída. Contudo, sei que existem opções mais económicas com escala em Madrid, por exemplo.

O voo foi a única coisa devidamente planeada desta minha passagem por Nova Iorque. Fiz alguma pesquisa básica mas não construí um roteiro propriamente dito, muito por preguiça confesso. E honestamente, foi o melhor que poderia ter feito. Cada dia era uma nova aventura, recheada de exploração, entusiasmo e todo um mundo de possibilidades infinitas. Os meus dias começavam com um pequeno-almoço numa coffee shop diferente e, aproveitando afincadamente o Wi-Fi, começava por ver o que queria visitar, agrupava os locais por áreas e via que linhas de metro teria que apanhar para lá chegar.
Brooklyn e Distrito Financeiro
Como acontece em várias cidades, a melhor vista de Nova Iorque está no outro lado do rio. Utiliza o metro para atravessar o East River para Brooklyn e visita o Dumbo, mais concretamente a marginal entre a ponte de Manhattan e a ponte de Brooklyn. Aqui consegues obter a paisagem icónica, com o distrito financeiro por detrás da Ponte de Brooklyn e quase consegues imaginar as duas torres gémeas ainda presentes.

É também nesta zona que encontras uma das ruas mais instagramáveis de sempre, com a ponte Manhattan no fundo. Aproveita que estás em Brooklyn e explora as lojas artísticas e de conceitos alternativos que estão por todo o lado. Queres uma loja que vende tudo numa temática de unicórnios? Lá tem!

Atravessa o famoso passadiço da Ponte de Brooklyn e tenta não ser atropelado(a) pelos ciclistas agressivos, que tocam a campaínha freneticamente e gritam com quem se atravessa na ciclovia. Faz o percurso entre Brooklyn e Manhattan para teres a melhor experiência com vista sobre Nova York.
Segue percurso para o distrito financeiro, encontra Wall Street e a Bolsa de Nova Iorque. Não percas a estátua da Fearless Girl, idealizada para demonstrar a desigualdade de género das mulheres no mercado financeiro e o renomeado touro, onde te podes divertir a observar os turistas a fazer fila para tocar nas suas “balls”, pois reza a lenda que traz sorte e prosperidade.

Arrepiei-me assim que cheguei ao controverso espaço do Memorial do 9/11 e observei aqueles dois fossos, com água a cair para a imensidão e na berma os nomes de todos os que faleceram naquele que foi um dos mais terríveis registos da história da Humanidade. É um local incontornável e verdadeiramente marcante. Acho que todos nós nos lembrámos do que estávamos a fazer naquele dia quando as imagens das torres gémeas a arder apareceram na nossa televisão.

O novo One World Trade Center é também impressionante e símbolo do renascimento da Nação. Contudo, na minha opinião, a estrela do espaço é o Oculus, uma afirmação ousada de Santiago Calatrava que para além de estação de metro serve também como centro comercial de marcas de luxo.
Meatpacking e Hudson Yards
Subindo um pouco para uptown, fugimos para o distrito de Meatpacking. Esta área organizada em edifícios de tijolo laranja onde antigamente eram abatidos os animais que abasteciam a carne de toda a cidade, é agora alvo de grande regeneração urbanística e nascem projetos que vão desde o interessante ao megalómano.

Nas ruas de Meatpacking é agora possível fazer compras em lojas Dior, Channel, Apple, saborear um voluptuoso café envelhecido em barris de whisky na loja de conceito inovador da Starbucks ou passear num mercado que celebra a decoração industrial.

É também aqui onde se inicia um dos projetos mais inovadores, a High Line. Uma antiga linha de comboio elevada convertida num parque e onde hoje a natureza, o design industrial e a ecologia coabitam de forma simbiótica, entregando à cidade um espaço único de lazer e desporto.
Este parque, inaugurado em 2009, estende-se por mais de 2 quilómetros e encontra-se já perfeitamente integrado no complexo de Hudson Yards, que representa o maior investimento privado na cidade desde a criação do Rockefeller Center em 1939. Para além de mudar dramaticamente o horizonte da cidade com os seus novos arranha-ceús, um dos factos mais impressionantes é que o empreendimento foi construído sobre 30 linhas de comboio ativas, que nunca interromperam a circulação.

A estrutura central de Hudson Yards, o The Vessel, é uma verdadeira obra-prima que permite ser escalada, basta para isso aventurarmo-nos nos seus 2500 degraus e 46 metros de altura. E vale muito a pena. Esta peça realmente incrível oferece vistas sobre o rio Hudson, sobre a cidade e sobre si própria, para que possamos confirmar todo o seu engenho artístico. A entrada é gratuita porém limitada, os bilhetes podem ser previamente adquiridos na página oficial, ou no próprio local, sujeito a disponibilidade.
Midtown
O meio da ilha de Manhattan é onde estão concentradas grande parte das atrações da cidade. Vamos começar pela majestosa Biblioteca Pública de Nova Iorque, inaugurada em 1911 para suprir as necessidades intelectuais da cidade.

O interior do edifício é maravilhoso e está repleto de detalhes impressionantes ao longo das várias salas que o compõem, desde a famosa escadaria em mármore da entrada aos tectos pintados e trabalhados em madeira. Na sua era dourada, possuía um mecanismo de tubos em que o leitor só precisava de enviar uma mensagem com o nome do livro que queria e este era reencaminhado desde o arquivo na cave para o salão principal.
A Grand Central Terminal, que está apenas a dois quarteirões da biblioteca, é outro edifício emblemático da cidade. Entrar lá é como recuar no tempo, para a época gloriosa do início do séc. XX. Vários elementos fazem inclusivamente lembrar o filme Titanic.

No tecto do lobby principal da estação, onde diariamente passa uma média de 750.000 pessoas, estão reunidas as principais constelações e foi recentemente restaurado num azul celeste. Nalguns locais do tecto é ainda possível ver pequenos quadrados com a cor original, mais escura e sóbria. Outro fan fact é que o relógio central está um minuto adiantado para pressionar os passageiros a embarcar e evitar com que percam o comboio.

Uma das minhas maiores indecisões foi escolher o observatório que iria visitar. Entre as escolhas estavam o One World Trade Center, o Empire State Building ou o Top of the Rock, no Rockefeller Center. Acabei por optar por este último porque é o que faz mais sentido se pudermos visitar apenas um deles. Oferece-nos vistas sobre o edifício mais icónico de Nova Iorque e também sobre a área do Central Park (e obter fotos como a que está a abrir este artigo), ao mesmo tempo que dispõe de terraços ao ar-livre. Recomendo a compra do bilhete no site oficial para a hora do por-do-sol, e aqui a ideia não é ver o por-do-sol propriamente dito, mas sim apreciar a luz incrível que banha os arranha-céus. O preço do bilhete ficou por cerca de 47€ embora no Get Your Guide se consiga mais barato.

Visitar Times Square é sermos inundados por um mundo de publicidade, em ecrãs com uma qualidade impressionante, é abraçar o capitalismo e observar a magnitude do consumismo. Dizem que vale a pena visitar tanto de noite como de dia, para mim bastou um passeio rápido.
Clica aqui para conheceres três locais genuinamente americanos nas redondezas de Nova Iorque.
Central Park
O parque mais famoso do mundo dispensa apresentações, o Central Park é o perfeito oásis para escapar da cidade. A sua área de 3,4 quilómetros quadrados permite-nos envolver na natureza de tal forma que deixamos de ouvir o barulho dos carros e as sirenes da polícia. A melhor forma de o conhecer é alugar uma bicicleta e percorrer as ruas apropriadas, mas atenção, temos que cumprir os sinais de trânsito e para visitarmos as partes mais internas temos que estacionar a bicicleta e seguir a pé 😉

O aluguer da bicicleta custou 20$ para 2 horas. Não se deixem enganar pelas citi bikes que estão espalhadas um pouco por toda a cidade, porque ficam ainda mais caras. Compensa alugar nas lojas que se encontram na periferia do parque, e não faltam senhores a tentar convercer-te a tomar essa opção.
O parque é realmente enorme e não faltam locais de interesse para visitar dentro do próprio parque, que conta com jardim zoológico, ringue de patinagem, muitos lagos, pontes, estátuas, museus e memoriais.

Se como eu não tiveres muito tempo para usufruir do parque na totalidade, não podes deixar de visitar o Terraço Bethesda e o Castelo de Belvedere, mas acima de tudo, aproveita para desacelerar, parar e deitar na relva, descalçar as sapatilhas, sentir o sol na cara, ler um bom livro ouvir os passarinhos, absorver aquilo tudo e sentires que estás no outro lado do oceano, em pleno Central Park.

No lado Oeste do Central Park, situa-se o Museu Americano de História Natural. A entrada tem um preço sugerido de 23$ para adultos, mas não existe um custo fixo, podemos dar o que acharmos justo, ou então apenas o que pudermos dar naquele momento.
A coleção é gigante e está dividida em várias áreas que se espalham por 4 pisos. Não faltam ossadas de dinossauros, salões de biodiversidade, crosta terrestre e exploração espacial, que inclui exemplares de meteoritos que precisam ser sustentados pelos alicerces do próprio edifício! Para um geek como eu, foi uma experiência imperdível e super interessante.

Passámos uma vida inteira a ver imagens de Nova Iorque e é inevitável não criarmos uma ideia daquilo que é. Essa ideia pode ser má, como era o meu caso, ou muito boa. O risco de saírmos desiludidos é elevado mas o conselho é ir, viver e sentir a cidade, ver com os teus próprios olhos, pois não é possível descrever o que se sente quando finalmente se põe os pés no concreto, quando caminhamos nas ruas e identificamos cada estereótipo dos filmes, quando levamos encontrões no metro e não ouvimos um pedido de desculpa, quando temos que vender um rim para comprar água, quando a liberdade de seres tu própio é total, pois ninguém quer saber, o resto do mundo está demasiado ocupado com AirPods nos ouvidos.
One can’t paint New York as it is, but rather as it is felt.
Georgia O’Keeffe
Tudo o que escreveu foi exatamente o que senti e vivi em Nova Iorque. Só mudo o facto de para mim, ter sido uma das minhas prioridades de visita. Não vejo a hora de lá voltar.
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Também quero voltar em breve! Fiquei realmente rendido 🙂
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Obrigada pelo teu testemunho! Quantos dias durou a tua viagem? Só vou lá estar 4 dias e meio, tenho de selecionar bem o que vou visitar…
Na tua opinião, vale a pena comprar um passe para entrada nas atrações? Obrigada!
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Olá Priscila, eu passei lá 7 dias. O passe depende do que queiras visitar, eu optei por não o comprar mas também só subi o Rockfeller Center e visitei o Museu de História Natural 🙂
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Ola Nuno, como foste do Aeroporto para o Centro? Obrigado pela mostra da Cidade, vivencia e Roteiro, Boas Viagens
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Olá Paulo! Apanhei o comboio da NJ Transit diretamente de Newark para Pennsylvania Station. São 20 min 😉
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