Localizada no noroeste de França, a Normandia é historicamente um local de sacrifício humano, contudo, hoje, por entre as praias do desembarque e as paisagens bucólicas, respira-se liberdade. Por lá vive-se tranquilamente, nas pequenas e pitorescas vilas ou na pacata vida do campo, onde se produzem deliciosas maçãs e sidra.
A nossa conquista da Normandia fez parte de uma roadtrip que iniciámos em Tours, o aeroporto mais próximo com ligação direta ao Porto. Na Ryanair é possível adquirir os voos com preços desde os 10€, já para percursos de ida e volta. Em Tours alugámos um carro para os seis dias, por 120€. Quanto ao alojamento nesta região, optámos por ficar 3 noites no Gîte La Banniere, um alojamento local na isolada vila de Equilly, com uma localização estratégica, bem no centro da Normandia.
Cidade Medieval de Dinan
Ao viajar em Janeiro, foi frequente acordarmos com 1ºC às 10 da manhã, de espátula em punho para descongelarmos o vidro do carro. A temperatura não nos demoveu e partimos para visitar Dinan, uma pequena cidade medieval nos arredores do Monte Saint-Michel.
Dinan é uma cidade cujas ruas são preenchidas por típicas casas de pedra, lojas artesanais, vários cafés com crepes e bares que servem um apurado vinho quente, com canela, laranja e especiarias, essencial para aquecer a alma nos passeios frios.
A catedral, a torre do relógio, o castelo e a zona do porto, perto do rio, são alguns dos pontos de interesse a não perder em Dinan, no entanto, o verdadeiro encanto está em explorar as ruas cinemáticas sem destino, ao nosso ritmo, parando aqui e ali para umas fotos.
Monte Saint-Michel
O monte Saint-Michel é uma formação rochosa localizada numa baía na foz do rio Couesnon, com a peculiaridade de ficar rodeada de água durante a maré alta. Como se este fenómeno não fosse o suficiente para o tornar merecedor de uma visita, o monte é coroado por uma abadia dedicada ao arcanjo São Miguel, brilhantemente concebida e modificada ao longo de um milénio e em torno da qual nasceu uma pequena aglomeração de casas que ficaram intactas desde a época medieval.
Para a imutabilidade da imponente arquitetura, contribuiu o facto do monte estar isolado, fortificado e protegido por uma muralha desde o século XIII, tornando-o impenetrável durante os períodos de guerra, sobrevivendo à Guerra dos Cem Anos e sendo ignorado nas guerras mundiais, apesar da ocupação alemã.
Escalar as ruas apertadas até à abadia é uma verdadeira viagem no tempo, se ignorarmos as várias lojas de souvenirs com letras japonesas, fruto da massificação turística em época alta. Também os preços são inflacionados no local, tanto das lembranças como dos restaurantes.
A entrada na abadia tem um custo de 11€, sendo gratuita para crianças até aos 18 anos e para cidadãos da União Europeia até aos 25 anos. No seu interior, obtemos a perceção de como viviam os monges e da evolução da abadia ao longo do tempo, temos acesso ao maravilhoso claustro e aos terraços com soberbas vistas sobre a baía.
O misticismo associado ao monte Saint-Michel intensificou-se quando a Laura me mostrou que existe uma linha reta que vai desde a Irlanda à Síria, formada por 7 santuários dedicados ao arcanjo. A Linha Sacra de São Miguel Arcanjo supostamente simboliza o golpe infligido pela espada de São Miguel no combate contra Lúcifer e que o enviou para o inferno, juntamente com os restantes anjos que se revoltaram contra Deus. Podes saber mais sobre este assunto clicando aqui.
Cemitério Americano de Colleville-sur-Mer
Numa área equivalente a 70 hectares descansam mais de 9000 militares do exército norte-americano que, a 6 de junho de 1944, deram as suas vidas para dar início à libertação da Europa do regime nazi. O terreno foi cedido pela França aos Estados Unidos da América num gesto simbólico de agradecimento, para que estes pudessem enterrar os seus mortos de forma digna.
Ao entrarmos no cemitério percebemos de imediato que já não nos encontrámos em território francês e somos transportados pela arquitetura nacionalista e jardins prestinamente cuidados. O Centro de Visitas, inaugurado em 2007, é um autêntico museu à la american way ao Desembarque da Normandia e permite-nos obter uma visão realista dos eventos do Dia-D, do quotidiano dos soldados, do equipamento que dispunham e das histórias de personalidades que, de uma forma ou de outra, ajudaram a por fim a um dos períodos mais negros da história da Humanidade, a troco de nada.
É arrepiante sair do Centro de Visitas e depararmo-nos com hectares de sepulturas perfeitamente alinhadas, que respeitam a religião, a identidade e o valor da vida humana, logo ali, a escassos metros da praia onde tudo aconteceu. Muito mais que um cemitério, é um memorial ao que, a todo custo, não se pode repetir e um lembrete ao que a união entre povos é capaz de alcançar.
Praias do Desembarque
No total, são 5 as praias do Dia-D. Os nomes de código deram origem ao nome pela qual hoje são conhecidas, sendo elas: Utah e Omaha, onde desembarcou o exército norte-americano, Gold e Sword atribuídas ao exército britânico e Juno, assaltada pelo exército canadiense.
Antes de se aventurarem pelas praias aconselho a passagem no Centro de Visitas do Cemitério Americano que explica ao pormenor o que se sucedeu em cada uma delas. A distância entre as praias é ainda considerável e se não tiverem tempo para percorrer todas elas, recomendo a visita à praia de Omaha, que se encontra nas imediações do cemitério e à Gold, onde é ainda possível observar os barcos onde seguiram os soldados.
Bunkers alemães
Excelentes estrategas de guerra, os alemães estavam conscientes da elevada probabilidade de ataque na zona da Normandia e trataram de defender a costa com uma sofisticada linha de defesa, construindo bunkers equipados com canhões de longo alcance.
É possível visitar alguns desses locais de defesa, como é o caso da Bateria de Longues-sur-Mer, que protegia as praias de Omaha e Gold e é o único caso na Normandia que, ainda hoje, retém o arsenal original. Estes canhões possuíam um alcance de 20 quilómetros e conseguiam disparar de 6 a 8 mísseis por minuto. A área em volta da bateria encontrava-se ainda protegida por um campo de minas e três sistemas anti-aéreos. Os soldados alemães renderam-se no dia seguinte ao desembarque, depois de vários mísseis aliados atingirem os bunkers, cujos danos são observáveis.